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Foto do escritorPaulin Talaska

Percepções sobre a Educação Ao Ar Livre


O futuro pertencerá ao inteligente natural - aqueles indivíduos, famílias, empresas e líderes políticos que desenvolvem uma compreensão mais profunda do poder transformador do mundo natural e que equilibram o virtual com o real. Quanto mais high-tech nos tornamos, mais natureza precisamos ”.

Richard Louv

 

-“Será que devemos sempre ensinar nossos filhos apenas usando os livros?” perguntou certa vez o naturalista David Polis, e logo em seguida declarou: “- que eles olhem para as montanhas e as estrelas lá em cima.. que se deixe olhar a beleza das águas e as árvores e as flores na terra. Eles então começarão a pensar, e pensar é o começo de uma verdadeira educação”(1).


A Educação ao Ar Livre é a promoção da sala de aula sem paredes que ajuda a criar um elo natural entre o estudante e seu entorno.


Brinca com a criatividade e oferece um recurso educativo que permite o desenvolvimento livre de estratégias e de habilidades que serão aplicáveis no mundo real.


Recente artigo publicado em fevereiro de 2019 traz luz e evidências para a pergunta: “será que as experiências de contato com a natureza promovem mesmo o aprendizado?” Pois finalmente, o que antes era tido como uma intuição ou saber dos tempos, desta vez foi investigado pela causa e efeito da relação entre a natureza e a aprendizagem. A Dra. Ming Kuo(2), da Universidade de Illinois, junto com outros pesquisadores, analisaram trabalhos que revelam de forma mais convincente o quanto o contato com a natureza produz mudanças na perseverança, na resolução de problemas, no pensamento crítico, na liderança, no trabalho em equipe e na resiliência. Definitivamente estamos acompanhando hoje quanto tempo e energia as empresas investem em suas equipes para obter estes resultados, que já poderia fazer parte da educação básica do ser humano que vive em sociedade.


No sudoeste da Inglaterra, crianças de 125 escolas são mais felizes, mais saudáveis e mais motivadas para aprender graças a um projeto encomendado pela Natural England que transformou o ambiente externo em uma sala de aula e ajudou as escolas a transformarem suas maneiras de ensinar. O projeto Natural Connections forneceu fortes evidências de que o aprendizado ao ar livre tem múltiplos benefícios para as crianças em idade escolar: 92% dos professores entrevistados disseram que os alunos estavam mais envolvidos com o aprendizado ao ar livre e 85% tiveram um impacto positivo em seu comportamento. A maioria das crianças também pensou que aprendeu melhor e alcançou mais resultados quando aprendeu fora da sala de aula convencional: 92% dos alunos envolvidos no projeto disseram que gostavam mais de suas aulas quando estavam ao ar livre e 90% se sentindo mais felizes e saudáveis como resultado.(3)


Ao conectar a educação ao ambiente natural, os estudantes têm um contexto no qual colocar o seu aprendizado e combustível para aumentar o desejo de estudar e se envolver com o currículo através da motivação pelo trabalho em equipe e o senso de preservação ecológica. Em seu estudo “Os Efeitos da Educação Baseada no Ambiente na Motivação de Realização dos Alunos”, os pesquisadores Julie Athman e Martha Monroe (4) estudaram 400 alunos do 9º e 12º ano e descobriram que os níveis de motivação para educação ao ar livre eram mais altos do que os tradicionais apresentados em salas de aula convencionais.


O autor e ambientalista Richard Louv traz em seu trabalho “A última criança na natureza” (5), que diante da limitação do contato com a natureza estamos vivendo um momento onde as crianças deixam de desenvolver as habilidades sociais e físicas, ficam mais estressadas e dispersas. Neste sentido o autor cunhou o termo “transtorno de déficit de natureza” que diz respeito aos vários problemas físicos e mentais que são decorrentes de uma vida desconectada do mundo natural.


Em 2011, Louv retorna com “The Nature Principle” (6), em que argumenta que a aprendizagem ao ar livre funciona porque exige melhor uso dos sentidos. O autor nos mostra como explorar os poderes restauradores do mundo natural pode aumentar a acuidade mental e a criatividade; promover a saúde e bem-estar; construir empresas, comunidades e economias mais inteligentes e sustentáveis e, finalmente, fortalecer os laços humanos.


Para a nossa sorte, o ambiente natural exerce um fascínio que vai além de sua inteligência e formas plásticas. Hoje a natureza como inspiração para a tecnologia é base para lições poderosas do que funciona e o que é apropriado aqui na Terra. A Biomimética, por exemplo, é a uma das cinco tendências que podem levar uma empresa ao sucesso mostrando formas de inovação e possibilitando a criação de produtos e soluções baseados na observação da natureza. É a imitação da vida, que explica como a colaboração é importante para a sobrevivência de todas as espécies pois, juntos, ampliamos recursos, temos proteção, reduzimos o estresse e porque afinal nós compartilhamos do mesmo espaço (7).


Will Nixon(8), lembra que “- Usar o mundo real é o modo como o aprendizado aconteceu por 99,9% da existência humana. Somente nos últimos cem anos colocamos em uma caixinha chamada sala de aula..”.


Apesar das evidências que apoiam uma extensão da aprendizagem ao ar livre, há vários obstáculos no caminho. Um desses obstáculos é a aversão ao risco no ambiente natural entre professores, pais e outros, aumentando a relutância em desafios tão diversos. O jornalista Tim Gill escreveu sobre a aversão ao risco parental e institucional que afeta muitas atividades com crianças em seu livro "No Fear" (9).


Em 15 anos de promoção da vida ao ar livre, a Abeta fez um esforço enorme para regulamentar as práticas de ecoturismo pautadas na segurança e seriedade inerentes ao desenvolvimento de suas atividades. Deste intenso estímulo resulta o valor atribuído e o cuidado também para o fazer da educação ao ar livre, assegurando as boas práticas além de colaborar para a formação de indivíduos respeitosos com o meio ambiente e entusiastas da vida em comunidade e ao ar livre.


Segundo ainda Gill, “a longo prazo, o progresso em todas as questões depende da nova geração do futuro crescer em direção a tornar adultos engajados, autoconfiantes, responsáveis, cidadãos resilientes: pessoas que sentem que têm algum controle sobre seus destinos e estão vivos para as consequências de suas ações. Isso só acontecerá se a sua infância incluir alguns ingredientes simples: contato frequente, desregulado e autodirigido com pessoas e lugares além das esferas imediatas da família e da escola, e a chance de aprender com seus erros”.


No mundo de hoje, com a complexidade e tantas crises chegando, essa conexão com mais do que apenas nós mesmos, mais do que apenas pessoas, é muito importante. Quando nascemos, pensamos que somos únicos, distintos... mais tarde em algum momento, principalmente quando viajamos para bem longe, percebemos que há pessoas diferentes umas das outras, lugares diferentes e fascinantes. E só quando viajamos ainda mais longe é que então descobrimos quantas coisas compartilhamos.


Quando se está na natureza, o tempo se move a uma taxa diferente, é muito mais lento e grandioso.


Viva a vida e a educação ao ar livre!


Referencias bibliográficas:

1. Wabisabi Learning . 2017. 5 ways outdoor education can prepare our students for the future.

2. Kuo, M. Et al, 2019. Do experiences with nature promote learning? Converging evidence of a cause-and-effect relationship. Front Psychol.

3. Natural England & Plymouth University. 2016. www.gov.uk

4. Athman, J. & Monroe, M.C. 2004. The effects of Environmental-Based Education on Students´ Achievement Motivation. Journal of Interpretation Research.

5. Louv, R. 2015. (edição em português). A utima criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno de déficit de natureza.

6. Louv, R. 2011. The Nature Principle: reconnecting with life in a virtual age.

8. Nixon, W. 1997. Letting nature shape childhood. The Amicus Journal in Linda Tallent `Outdoor Learning´ 2007.

9. Gill, T. 2007. No Fear – growing up in a risk averse society. Calouste Gulbekian Foundation

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